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Redes digitais: um mundo para os amadores.

Novas relações entre mediadores,

mediações e midiatizações

e às novas ferramentas informatizadas, podem adquirir as com-

petências fundamentais durante seu lazer.

Não é, portanto, no universo dos profetas da web 2.0

que é necessário pesquisar as ferramentas para compreender a

atividade dos amadores, mas no universo dos pensadores que se

interessam pelas competências ordinárias de cada um. Richard

Sennett mostra que há ummundo bastante rico de “

expertise

 co-

tidiana” em cada indivíduo, detentor de saberes e competências

que são bem distintos daqueles das elites

3

. Isso que Sennett ob-

serva no empreendedorismo pode-se ver em toda a sociedade.

Sua obra nos mostra que a palavra “

expert”

possui dois significa-

dos: uma acepção tradicional (“tornado apto pela experiência”)

e uma acepção contemporânea (“especialista”). É a ideia de uma

expertise

adquirida pela experiência que Sennett tenta resti-

tuir. Sua abordagem se junta às análises que Michel de Certeau

propôs há 30 anos sobre as “artes de fazer”, essa “invenção do

cotidiano”

4

realizada pelo indivíduo comum que adapta os sabe-

res e desenvolve práticas refratárias e originais, de bricolagens

que podem levar a descobertas.

Na mesma época, Ivan Illich

5

insistia no fato de que os

indivíduos deveriam reconquistar a capacidade de eles mesmos

assumirem iniciativa e não se restringir às “profissões incapaci-

tantes” que impedem o homem de (se) compreender. Ele insis-

tia na capacidade dos indivíduos de adquirir por conta própria

as competências e compartilhar seus conhecimentos. A aquisição

remete aqui à vontade, ao prazer. Enfim, há a ideia de que se deve

preocupar-se menos com os conteúdos adquiridos do que com as

pessoas com as quais nos dispomos a efetuar trocas.

Nessa perspectiva, a atual democratização das compe-

tências reside primeiramente no aumento do nível médio de co-

nhecimento (devido notadamente à ampliação da escolaridade)

e na possibilidade criada pela Internet de fazer circular os sa-

beres, de difundir a opinião a um público mais vasto. O amador

que surge hoje estimulado pelas técnicas digitais as utiliza para

realizar seu desejo de adquirir e de melhorar suas competên-

3

SENNETT, Richard.

The Craftsman

. New Haven: Yale University Press, 2008.

4

CERTEAU, Michel de.

The Practice of Everyday Life

. Berkeley: University of

California Press, 1984.

5

ILLICH, Ivan.

Deschooling Society

. New York: Harper & Row, 1971.