Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
e o especialista. Examinemos agora essas diferentes práticas
amadoras.
2 As práticas culturais amadoras
2.1 O amador que produz
As práticas culturais amadoras correspondem a uma
demanda crescente. Após uma estagnação nos anos 1970, elas
retornaram com vigor nas décadas seguintes. Assim, em 2003,
um terço dos franceses possuíam uma prática amadora. Uma
pesquisa de 2008 mostra que essas práticas continuam a cres-
cer, mas se renovam, e uma parcela delas remete ao digital.
Mais da metade dos usuários de computadores domésticos se
envolveram em uma atividade de autoprodução criativa, com
uma intensidade que é evidentemente distinta de acordo com
os indivíduos
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2.2 A música eletrônica
A música eletrônica baseada na “mixagem”, a justa-
posição de faixas provenientes da coleção de um DJ, é um bom
exemplo de uma atividade musical acessível aos amadores que
adquiriram, pela prática e aprendizado coletivo, o saber-fazer
necessário. O computador permite sistematizar esses hábitos de
tomar emprestado a partir de registros existentes e de desen-
volver a estética da justaposição tão característica do DJ. A infor-
mática alimenta, assim, uma prática amadora que prescinde de
qualquer formação prévia. Ela permite, sobretudo, ingressar de
imediato num ramo criativo. Entre os músicos amadores da era
digital encontram-se dois perfis: aquele que possui uma práti-
ca precoce em um instrumento e que, adicionalmente, descobre
no computador a possibilidade de inovar ou praticar de outro
modo; e o amador, especialmente de origem popular, que des-
venda simultaneamente a música e a informática e se direciona
ao rock ou ao rap.
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DONNAT. Olivier.
Les Pratiques culturelles des français à l’ère numérique
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Paris: La Découverte, 2009, p. 67 e 189-203.