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Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações

cias em alguma área. Ele não procura substituir o profissional,

nem mesmo agir como como esse, mas desenvolve em seu lugar

uma “

expertise

ordinária”, adquirida pela experiência, que lhe

permite realizar, durante seu tempo livre, as atividades de que

gosta e que escolhe. Modesto e apaixonado, ele cobre toda uma

gama de posições entre o ignorante, o leigo e o especialista. Sua

expertise

é adquirida pouco a pouco, dia após dia, pela prática

e experiência. Pode-se dizer o mesmo eventualmente sobre a

hibridização entre o amador e o profissional, da qual o

pro-am

é um protótipo. Porém o mundo do amador é menos aquele da

mistura do que aquele do entremear. O amador encontra-se a

meio caminho entre o homem ordinário e o profissional, entre o

leigo e o virtuoso, o ignorante e o sábio, o cidadão e o homem po-

lítico. A Internet facilita esse entremear: ela fornece ao amador

as ferramentas, os pontos de apoio, as vias de passagem.

Qual é o ambiente do amador? Sua atividade, essencial-

mente não comercial (no sentido de que ele é próximo do vo-

luntário), desenvolve-se em três domínios: nas artes, no conhe-

cimento e na cidadania. Ele raramente está só, pois se inscreve

frequentemente nos coletivos que lhe permitem obter opiniões,

conselhos e experiências, enfrentar julgamentos, debater e, às

vezes, estabelecer um público. A Internet fornece a ele oportuni-

dade para se inscrever nessas comunidades virtuais que permi-

tem compartilhar preferências comuns e, além delas, experiên-

cias similares. Na Internet, o amador pode não apenas adquirir

as competências, mas também as colocar em execução de dife-

rentes formas. Isso remete às duas grandes figuras do amador:

aquela que realiza e aquela que contempla, o artesão e o conhe-

cedor. Um fabrica, cria, inventa; o outro sabe desvendar as boas

coisas e as explicar. Trata-se de duas figuras que se opõem ou

se completam: aquela do “amador” e aquela do “amador de”. O

amador, então, eu poderia dizer aqui, não distingue sempre es-

sas duas figuras e pode inclusive as reunir. Contrariamente ao

mundo da arte, que diferencia o artista do crítico, o mundo do

amador interpõe as posições, em que produção e discurso, cria-

ção e julgamento não são jamais totalmente separados.

O amador, primeiramente, elege sua área de atividade,

define livremente um projeto individual e age pelo prazer, em

função de suas paixões e do que importa para ele. Ele desenvolve