Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
doras. No caso de Harry Potter, não dependerá apenas da nar-
rativa em si, mas de posicionamentos da autora, que é conside-
rada autoridade pelos fãs, das indústrias (operando mais como
coerção jurídica) e, por fim, das convenções internas formuladas
pelos atores. Nessa dinâmica os receptores-criativos engendram
um fenômeno que Flichy (2010, p. 7) chamaria de
consagração
dos amadores
. A expressão trataria da emergência, na esfera da
cultura e política, dos usuários das TICs. E, tal como no
fandom
da narrativa de Rowling, as competências seriam desenvolvidas
em conjunto. Cabe reiterar: essa razão colaborativa seria tanto
mais intensa quanto maior fosse o tempo destinado à sua reali-
zação – fator intensificado com a ubiquidade tecnológica. O pro-
cesso realizado pelos aficionados concerne a duas das três esfe-
ras propostas por Flichy (ibid., p. 87) para entender as práticas
amadoras contemporâneas: a da cultura e a do conhecimento.
O
fandom
tanto encontra sua natureza na relação essencial com
a cultura como, com o auxílio das TICs, condensa os fãs em tro-
cas inclinadas a um comunitarismo, favorecendo o aprendizado
além do espaço escolar.
Mesmo com a dificuldade de articulação entre os fãs
nos primeiros movimentos observados por Jenkins, foi possível
constatar a aproximação da indústria para com esses consumi-
dores avançados. Alguns dos pioneiros nas criações derivadas
de objetos da cultura popular foram incorporados a quadros
profissionais (1992, p. 49), como roteiristas de séries televisivas
ou escritores de ficção. Recentemente, sob o formato de novela
produzida por uma fã de
Crepúsculo
, a trilogia
50 Tons de Cinza
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exalta o potencial de participação de mercado desses interagen-
tes. Quanto a Harry Potter, a Warner Bros, produtora do jogo de
video game
da série,
Harry Potter for Kinect
, organizou um con-
curso musical em que o vencedor teria sua composição como
faixa principal do
game
.
Mas seria redutor elencar essas práticas como único
expediente de aproximação da indústria para com os
fandoms
.
De maneira geral não se trata apenas da figura do fã, mas sim
4
50 Tons de Cinza
foi originalmente divulgado entre fãs da saga
Crepúsculo
, em
textos que mantinham os mesmos personagens e cenários do original. Para a
versão impressa, que constou entre os livros mais vendidos no Brasil (Saraiva) e
nos EUA (Amazon), foram feitos ajustes para suprimir essa ligação.