Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
5 Midiatização e cultura popular
A organização social com base nas TICs deslocou o
campo comunicacional daquele papel que lhe era conferido de
mediador entre os demais campos. Mas isso não significa a di-
luição dessa linha de força, e sim sua transformação em outro
marco comunicativo. A emergência da
web
e das ferramentas a
ela associadas aumenta os fluxos trocados não apenas pelas in-
dústrias da cultura, mas também pelos atores individuais, mo-
bilizados a partir de suas experiências ordinárias: as esferas
privada e pública.
Estudos vinculam as tecnointerações atuais a um novo
processo de referência na sociabilidade que despontaria como
continuidade histórica e, ao mesmo tempo, ruptura formal e
cognitiva com as relações embasadas na escrita. A isso se apro-
ximam Gomes (2008) e Braga (2007). Não implicaria, no en-
tanto, a extinção dos processos anteriores; a própria escrita e
oralidade se perpetuariam orbitando na camada externa dessa
nova realidade. E, para tentar tornar inteligível esse fenômeno,
recorremos ao conceito de
midiatização
.
Já Miège (2009, p. 82), é mais cauteloso ao remeter a
qualquer ruptura de ordem comunicacional. Ele reivindica a
centralidade do processo interacional contemporâneo às TICs,
sendo o que ele chama de midiatização o elemento de interpo-
sição das novas mídias entre os indivíduos e as consequências
delas nas práticas dos grupos sociais e processos de recepção.
Sua preferência é por observar os coletivos na linha do tempo,
privilegiando a referência à técnica em vez de realizar inferên-
cias ligadas a uma metafísica comunicacional.
Apesar dos matizes diversos, incluindo outros autores
que dão nomes distintos ao processo, a midiatização pode ser
entendida como a particularidade tecnossocial da virada do mi-
lênio. Nela as trocas midiáticas são facilitadas, e, consequente-
mente, há maior aproximação entre quem só mantinha contato
indireto com outras pessoas enquanto era considerado como
público. Porém, é necessário ressaltar que essa horizontalização
comunicativa não é absoluta; prova disto é que laço discursivo
que une o
fandom
aqui estudado é uma narrativa de massa.