Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
É preciso enfatizar também a dissociação de sexo e
gênero, por vezes tratados erroneamente como sinônimos, fato
este que apenas contribui para um entendimento dicotômico de
gêneros entre feminino e masculino, homem e mulher, macho
e fêmea. São vários os autores que colaboram para esta com-
preensão que renega o essencialismo, tais como Judith Butler
(1990), Gayle Rubin (2013), Simone de Beauvoir (1967), Pierre
Bourdieu (2011) e Joan Scott (1989), entre outros.
Se o conceito de gênero parece ser tão plural, have-
ria como conceitualizarmos o feminino ou a mulher? Enquanto
Judith Butler pensa em gênero como a interseção entre clas-
se, raça, consumo, representação, corpo, etc., Linda Nicholson
prefere a perspectiva da “coexistência desses vários fatores”
(ALMEIDA, 2002, p. 91):
Quero sugerir que pensemos no sentido de “mu-
lher” do mesmo jeito que Wittgenstein sugeriu pen-
sarmos o sentido de “jogo”, como palavra cujo sen-
tido não é encontrado através da elucidação de uma
característica específica, mas através da elaboração
de uma complexa rede de características. Essa su-
gestão certamente leva em conta o fato de que deve
haver algumas características — como a posse de
uma vagina e uma idade mínima—que exercem um
papel dominante dentro dessa rede por longos pe-
ríodos de tempo (NICHOLSON, 2000, p. 27).
Vários textos, incluindo o de Nicholson (2000), ainda
falam sobre os movimentos baseados em crenças religiosas que
teriam insistido em manter firme a ideia dicotômica de mascu-
lino e feminino. Assim como Gayle Rubin, Linda Nicholson tam-
bém se apoia nas palavras de Marx e outros pensadores, quando
assume a “grande importância da sociedade na constituição do
caráter” (NICHOLSON, 2000, p. 14).
Após este breve passeio por alguns pensamentos acer-
ca de gênero, até mesmo de uma linha em direção à possibilida-
de de construção de uma “identidade feminina”, pode-se pensar
que, mesmo com toda a trajetória e os esforços dos pesquisa-
dores de gênero e do feminismo, ainda há muito o que se tra-
tar, ainda mais considerando o ritmo acelerado e a instabilidade