170
- Compostagem e biometanização descentralizada
No Brasil, as ações do governo para estimular a adoção de compostagem doméstica
ainda são fracas. Além disso, os modelos de composteiras ou de compostagem em pequena
escala disponíveis no mercado são poucos e caros para a maioria das pessoas. Nesse sentido,
as instituições públicas de ensino e/ou de pesquisa que já possuem um conhecimento
acumulado face a experiências consolidadas podem e devem contribuir, especialmente pelo
seu papel educacional, formador de opinião e difusor de tecnologias.
A compostagem em pequena escala, quando realizada de forma descentralizada,
proporciona economia significativa nos custos de energia e de transporte de resíduos sólidos,
bem como uma redução substancial das emissões, uma vez que os resíduos são reciclados
adequadamente no local de sua geração (MARQUES; HOGLAND, 2002; ORDIF, 2016).
A questão econômica é extremamente relevante; porém, não pode paralisar as
melhorias da gestão. Há várias maneiras de viabilizar economicamente os programas e ações.
Um exemplo é o da Agência de Resíduos da Catalunha (Espanha), que financia a instalação
de unidades de compostagem e biometanização através de um Fundo, mantido com a taxa de
disposição dos resíduos, cobrado por cada tonelada que vai para o aterro sanitário ou para
incineração. O valor pode ser restituído dependendo da quantidade e qualidade dos resíduos
orgânicos que chegam às 19 unidades de compostagem e cinco plantas de biometanização
(REGIONSFORRECYCLING, 2014).
Por outro, o incentivo a instalações comerciais também é fundamental. Uma análise
custo-benefício que foi realizada utilizando-se dos dados de cinco plantas de compostagem na
Ásia, incluindo Surabaya, Bali e Bekasi em Indonésia, Beijingna China, e Matale no Sri
Lanka. Concluiu-se que, as unidades de média escala têm uma oportunidade ideal para serem
financeiramente viáveis quando comparadas com as unidades de pequena e grande escala. As
vantagens da média escala são: a entrada de resíduos e a qualidade do produto são mais fáceis
de controlar do que em usinas de compostagem em escala maior; existem oportunidades de
renda extra, tais como taxas de depósito e de créditos de carbono, que são limitadas no caso
das unidades de compostagem em pequena escala. A escala de unidade de compostagem é um
dos principais fatores a serem considerados na fase inicial de planejamento de usinas de
compostagem. O estudo também identificou que a viabilidade econômica das unidades de
compostagem depende deinúmeros de fatores, como a seleção de métodos de processamento
adequado, tecnologias, escala, qualidade de produto e estratégias de
marketing
(PANDYASWARGO; PREMAKUMARA, 2014).
Segundo Philippi (2009), uma das formas que permite à comunidade refletir sobre
suas práticas e atitudes em relação ao meio ambiente, bem como demonstrar a sua capacidade
de autonomia e cidadania, é a descentralização dos serviços de saneamento. Ela também
fornece o incentivo à criatividade social, para a formulação e adoção de tecnologias
apropriadas às condições específicas da comunidade. Maestri (2010) acrescenta que ter um
sistema que promove a participação da comunidade na gestão do lixo orgânico contribui para
melhorar a organização do setor. Para a comunidade, a aterro sanitário é uma maneira mais
fácil de lidar com o problema do lixo. No entanto, a descentralização da gestão de resíduos
orgânicos promove o envolvimento de estabelecimentos, residências e prefeituras, para que
todos possam beneficiar do retorno ambiental e também econômico obtido pela reciclagem
local.
178