Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
2 Capitalismos e novas práticas nos fluxos
comunicacionais
De acordo com Proulx (2012), o capitalismo passou
por três fases de desenvolvimento: o capitalismo industrial
(1750-1945), caracterizado pela obtenção de lucro com base
na organização do trabalho das fábricas mensurado pela força
física dos trabalhadores; o compromisso fordista (1945-1975),
no qual o trabalho humano se estabelecia pelo ritmo das máqui-
nas, trabalhadores passaram a ganhar maiores salários e hou-
ve o surgimento da ideia de consumo como bem-estar social; e
o capitalismo cognitivo ou imaterial (de 1975 até o presente),
momento em que o trabalho passa a ser intangível, em que se
exigem do trabalhador seus conhecimentos e sua subjetivida-
de. Diante deste quadro, Proulx (2012), inspirado por Gollain
(2010), analisa as mutações do capitalismo contemporâneo à
luz de duas importantes interpretações.
Por um lado, Antonio Negri (1996) defende o argumen-
to de que há uma transformação denominada “capitalismo cog-
nitivo”, na qual a “potência subjetiva” dos trabalhadores é capaz
de transformar os modos de produção e formar o que Negri cha-
ma de “intelecto geral”, uma espécie de inteligência coletiva dos
trabalhadores que é capaz de inventar e produzir. Neste cenário,
há uma mudança nas formas de acumulação das organizações,
que passam a valorizar mais o conhecimento e a criatividade do
que as máquinas e a organização do trabalho, como era na fase
industrial. Assim, a empresa passa a ser um empreendimento
coletivo, já que o valor central é o conhecimento.
Por outro lado, Andre Gorz (1997, 2003) assume uma
postura mais radical, e sua tese é que a emergência do que cha-
ma de “trabalho imaterial” significa uma crise no sistema capi-
talista, que inevitavelmente o levará ao colapso, até mesmo por-
que surge a dificuldade de se monetizar o intangível. Em vez de
apenas transformação dos meios de produção, sua proposta é
pensar em uma saída do capitalismo rumo a uma utopia pós-
-mercantil, uma sociedade em que as relações sociais seriam
construídas fora das leis do mercado. Haveria a necessidade de
uma libertação humana do trabalho na medida em que a auto-