Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
Diante de tal cenário, o presente artigo objetiva pro-
por um debate sobre algumas questões já levantadas por Proulx
(2012) quando aventa uma crítica das tecnologias da informa-
ção e comunicação (TIC) sob o prisma das mutações do capi-
talismo contemporâneo. Tomando como premissa que há um
esgotamento do modelo capitalista tal como o conhecemos hoje
e uma emergência de propostas políticas que contemplem ques-
tões ambientais, de direitos humanos e de melhoria da qualida-
de de vida em detrimento do consumo, alvitramos a ocorrência
de “microrrevoluções midiatizadas”
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, tentativas, operacionaliza-
das por uma resistência anônima e global.
O movimento brasileiro, salvo suas particularidades,
convergiu com uma postura que vinha sendo adotada em pro-
testos no mundo todo pelo menos desde a década de 1990,
como se viu nas manifestações contra o encontro da OMC
(Organização Mundial do Comércio) em Seattle no ano de 1999,
nos Indignados da Europa (Espanha, Grécia, Portugal e Itália)
em 2011, no Occupy Wall Street em 2011 e em muitos outros,
que têm como características comuns a mobilização a partir da
internet, sobretudo, das “redes de relacionamento” (Twitter,
Facebook, etc.), a descrença nas formas de representatividade
política através de partidos, a ausência de líderes oficiais, a des-
centralização das pautas reivindicatórias (que, genericamente,
giram em torno da construção de um mundo mais justo e par-
ticipativo) e a adoção, por uma parte dos manifestantes, da es-
tratégia de mobilização em protestos denominada Black Bloc,
que consiste em oferecer resistência contra a repressão policial
e fazer performances de destruição de ícones do capitalismo
(restaurantes
fast food
, bancos, multinacionais, revendedoras de
automóveis, etc.), como simbólica de repúdio ao lucro enquan-
to finalidade última da sociedade, com a tentativa de organizar
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O termo midiatização tem ganhado destaque nas pesquisas em comunicação
ao longo dos últimos anos. O livro da Compós 2012, cujo título é
Mediação e
mediatização
, propõe uma discussão teórica e metodológica sobre os termos
para tentar construir bases epistemológicas sólidas. Neste trabalho, entende-
mos a midiatização, assim como Fausto Neto (2010) e Ferreira (2010), como
uma reorganização sócio-tecno-discursiva que altera o modo de interação hu-
mana e constitui um novo ambiente no qual a realidade inteligível se constrói
via processos midiáticos na dinâmica da circulação e segundo o fluxo da própria
rede, processo que ainda apresenta características de incompletude.