Table of Contents Table of Contents
Previous Page  193 / 282 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 193 / 282 Next Page
Page Background

Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

Nossa proposição central é que, na medida em que

os atores tomam consciência da midiatização, ou seja, na pers-

pectiva que adotamos aqui, começam a produzir comunica-

ção apreendendo as lógicas de mídia (FAUSTO NETO, 2010;

FERREIRA, 2011), a legitimidade da representação política e o

monopólio informacional das instituições midiáticas se enfra-

quecem pela própria obsolescência dos modelos existentes, ten-

sionados pelo ambiente. Criou-se a possibilidade de as pessoas

obterem informação independentemente dos meios de comuni-

cação tradicionais, de se auto-organizarem sem a necessidade

de lideranças, de se mobilizarem nos espaços urbanos sem a ne-

cessidade da convocação de partidos políticos ou sindicatos, ou

seja, diminuiu-se o papel das instituições mediadoras.

Isto não significa que haja, automaticamente, uma re-

sistência organizada e eficiente por parte dos atores sociais.

Há muitos problemas na ideia tecnodeterminista de que a web,

por si, fará a revolução. Um dos grandes problemas já colocados

por Proulx (2012) é o desenvolvimento do que o autor chama

de “pseudodemocracia”, causada pela alienação dos próprios in-

ternautas que se perdem em “desvios populistas” que reduzem

a percepção do agir político a um universo do entretenimento

acentuado por fenômenos como a cultura de fãs, redes de re-

lacionamento, games, etc. (que não são ruins em si, mas que se

tornam problemas quando passam a ser referência de cidadania

na internet). Ou, ainda, outro problema surgido na web é a pola-

rização dos radicais, na qual os discursos antagônicos só fazem

reforçar crenças cristalizadas sem nenhuma possibilidade de

negociação em prol de objetivos comuns.

A resistência nos protestos do Brasil se organizou em

duas frentes principais, quais foram: uma sócio-operacional, fei-

ta pelos milhares de pessoas que saíram às ruas, e uma sociotéc-

nica, que consistiu na mobilização através da internet. Por um

lado, os atores sociais protestaram com seus corpos, ocupando

o espaço urbano, portando cartazes com múltiplas reivindica-

ções, gritando palavras de ordem, resistindo à repressão policial

através da organização em blocos, dos quais o Black Bloc é a ex-

pressão mais radical. Por outro, milhões de usuários da internet

interagiram nas redes de relacionamento, trocaram informações

sobre os motivos do protesto, produziram materiais de divulga-