

Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
Nossa proposição central é que, na medida em que
os atores tomam consciência da midiatização, ou seja, na pers-
pectiva que adotamos aqui, começam a produzir comunica-
ção apreendendo as lógicas de mídia (FAUSTO NETO, 2010;
FERREIRA, 2011), a legitimidade da representação política e o
monopólio informacional das instituições midiáticas se enfra-
quecem pela própria obsolescência dos modelos existentes, ten-
sionados pelo ambiente. Criou-se a possibilidade de as pessoas
obterem informação independentemente dos meios de comuni-
cação tradicionais, de se auto-organizarem sem a necessidade
de lideranças, de se mobilizarem nos espaços urbanos sem a ne-
cessidade da convocação de partidos políticos ou sindicatos, ou
seja, diminuiu-se o papel das instituições mediadoras.
Isto não significa que haja, automaticamente, uma re-
sistência organizada e eficiente por parte dos atores sociais.
Há muitos problemas na ideia tecnodeterminista de que a web,
por si, fará a revolução. Um dos grandes problemas já colocados
por Proulx (2012) é o desenvolvimento do que o autor chama
de “pseudodemocracia”, causada pela alienação dos próprios in-
ternautas que se perdem em “desvios populistas” que reduzem
a percepção do agir político a um universo do entretenimento
acentuado por fenômenos como a cultura de fãs, redes de re-
lacionamento, games, etc. (que não são ruins em si, mas que se
tornam problemas quando passam a ser referência de cidadania
na internet). Ou, ainda, outro problema surgido na web é a pola-
rização dos radicais, na qual os discursos antagônicos só fazem
reforçar crenças cristalizadas sem nenhuma possibilidade de
negociação em prol de objetivos comuns.
A resistência nos protestos do Brasil se organizou em
duas frentes principais, quais foram: uma sócio-operacional, fei-
ta pelos milhares de pessoas que saíram às ruas, e uma sociotéc-
nica, que consistiu na mobilização através da internet. Por um
lado, os atores sociais protestaram com seus corpos, ocupando
o espaço urbano, portando cartazes com múltiplas reivindica-
ções, gritando palavras de ordem, resistindo à repressão policial
através da organização em blocos, dos quais o Black Bloc é a ex-
pressão mais radical. Por outro, milhões de usuários da internet
interagiram nas redes de relacionamento, trocaram informações
sobre os motivos do protesto, produziram materiais de divulga-