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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

um “poder cidadão” catalisado através das TIC. Mesmo que o re-

sultado de suas ações seja considerado arbitrário por boa parte

das pessoas (no caso da performance Black Bloc, por exemplo),

o que está em discussão aqui é o ineditismo de experiências po-

líticas que se enunciam ácratas no Brasil contemporâneo e se

organizam a partir das mídias sociais.

Resta-nos saber como esta expansão da comunicação

mediada por computador (

peer-to-peer

) potencializa um novo

modelo de cultura da participação que visa suplantar as defi-

ciências e aberrações sociais e econômicas da sociedade capita-

lista moderna. É possível falar de uma nova forma de cidadania

midiática a partir das TIC? As plataformas de participação da in-

ternet podem configurar um espaço de expressão que assegure

novas formas autênticas do agir político? O que buscavam os ci-

dadãos nas manifestações? Estariam os atores sociais conscien-

tes da potência de um poder cidadão que passa das plataformas

web

para ações políticas efetivas? Essas são perguntas impor-

tantes que não teríamos condições de responder neste pequeno

ensaio, mas que são tomadas aqui como questões de horizonte

para traçarmos, mesmo que incipientemente, algumas caracte-

rísticas dos usos e apropriações das TIC como meios de cons-

trução da resistência do movimento brasileiro que foi às ruas

protestar em junho de 2013. É neste sentido que gostaríamos

de saber: qual foi o papel das TIC e da internet na formação da

resistência política nos protestos brasileiros? Tentar responder

esta pergunta, na verdade, é tentar compreender a possibilida-

de de uma apropriação mais crítica das mídias em prol de uma

cidadania mais efetiva e legítima.

Para tal empreendimento, analisamos a circulação de

materiais relativos aos protestos encontrados na internet no

momento em que estavam ocorrendo, procurando por fragmen-

tos que nos mostraram a flagrante dicotomia tanto das intera-

ções entre os manifestantes e seus simpatizantes (encontrada

principalmente nas redes de relacionamento, plataformas de

compartilhamento, blogs e pequenos websites) quanto da visão

institucional de governos, academia e mídia corporativa (vistos

em portais do dito “jornalismo tradicional”), procurando enten-

der a complexidade das disputas simbólicas e da construção dos

sentidos (FERREIRA, 2005, 2007).