Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
de organizar a resistência, “microrrevoluções nas lógicas intra-
midiáticas”, na qual as performances simbólicas dos protestos
nas ruas, a construção de sentidos nas redes da web e as ações
efetivas de ataques cibernéticos dos hackers às instituições
convergem para a ocupação de uma nova ambiência comuni-
cacional (GOMES, 2010), que é a arena de toda inteligibilida-
de dos múltiplos discursos contemporâneos (FAUSTO NETO,
2005). É perceptível que houve um esforço dos atores para
apropriar-se dos “dispositivos midiáticos”
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, noção proposta
por Ferreira (2006), pois começam a perceber que isto afeta
diretamente os processos sociais. Neste caso, importam menos
os ataques, na forma de barricadas, às materialidades do poder
do que a produção simbólica dos sentidos sobre estes ataques.
Portanto, o enfrentamento nas ruas, os discursos nas mídias
sociais ou as invasões de sistemas são produzidos com vistas a
serem midiatizados.
A primeira forma de agir político, nos termos de Proulx
(2012, p. 7), pode ser evidenciada nos usos e apropriações das
redes sociais para produção e disseminação de informações rela-
tivas às manifestações e, de modo mais abrangente, na discussão
sobre a possibilidade de um “poder cidadão” construído através
do acesso e do domínio das TIC. Duas das frases mais utilizadas
nos cartazes dos manifestantes, “vem pra rua” e “o gigante acor-
dou”, paradoxalmente, foram inspiradas em slogans de marcas
conhecidas que circulavam em comerciais da TV aberta. Tendo
em vista a abrangência da televisão como meio de comunicação
nos países latino-americanos, percebe-se que os atores sociais
usam estratégias de resistência cultural contra-hegemônicas em
apropriações bem-humoradas de produtos da indústria cultu-
ral, assim como já demonstrou Martín-Barbero (1997) a respei-
to das “mediações culturais”, para construir sentidos diferentes
dos oferecidos pelas instituições dominantes.
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Ferreira (2006) defende o dispositivo como objeto de investigação e faz a dis-
tinção de dispositivo no campo da comunicação (tecnologia) e da teoria social
crítica (Foucault, Deleuze, Guattari). Propõe o dispositivo como “triádico e re-
lacional” e torna o conceito operacional no campo da comunicação ao defen-
dê-lo como objeto de investigação que contém três dimensões que se autode-
terminam: socioantropológica, semiolinguística e tecnotecnológica, ou, por ou-
tras palavras, uma tecnologia, um sistema de relações sociais e um sistema de
representação.