Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
ção das ideias em blogs e plataformas de compartilhamento,
criaram mídias alternativas para noticiar os acontecimentos, e
grupos de hackers, em especial o Anonymous, atuaram na inva-
são de websites governamentais e de grandes grupos de comu-
nicação, postando mensagens de convergência com os protestos
das ruas e divulgando informações sigilosas sobre o governo,
que fomentaram ainda mais o movimento.
Nesta perspectiva, as duas frentes atuaram simulta-
neamente, sendo a principal característica comum (que difere
dos movimentos de luta popular históricos do Brasil como o
“Diretas Já”
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e o “Fora Collor”
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) a busca por um fortalecimento
através da resistência anônima, seja no rosto coberto por lenços,
máscaras de gás e passa-montanhas adotados pelos ativistas
Black Bloc (proibidos em alguns estados), seja pela máscara do
personagem Guy Fawkes (do HQ e filme V de Vingança, 2008),
que se tornou símbolo do Anonymous em todo o mundo e apa-
receu de forma muito expressiva nas manifestações de rua. Os
manifestantes, a maioria “nativos digitais”
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, parecem depositar
esperança na figura do hacker, que, pelo conhecimento dos códi-
gos informáticos, poderia resistir, de forma efetiva, contra o pro-
valecimento econômico das organizações capitalistas, visto que
este código estaria no centro da transformação do capitalismo
contemporâneo (PROULX, 2012).
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“Diretas Já foi um dos movimentos de maior participação popular da história do
Brasil. Teve início em 1983, no governo de João Batista Figueiredo, e propunha
eleições diretas para o cargo de Presidente da República. A campanha ganhou
o apoio dos partidos PMDB e PDS e, em pouco tempo, a simpatia da população,
que foi às ruas para pedir a volta das eleições diretas.” (DUARTE, Lidiane.
Diretas já, 2013. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/diretas-
ja/>. Acesso em: 10 ago. 2013).
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“Após muitos anos de ditadura militar e eleições indiretas para presidente,
uma campanha popular tomou as ruas para pedir o afastamento do cargo do
presidente Fernando Collor de Melo. Acusado de corrupção e esquemas ilegais
em seu governo, a campanha ‘Fora Collor’ mobilizou muitos estudantes que saí-
ram às ruas [em 1992] com as caras pintadas para protestar contra o corrupto
presidente.” (GASPARETO JUNIOR, Antonio. Fora Collor, 2013. Disponível em:
<http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/fora-collor/>. Acesso em: 10
ago. 2013).
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Segundo Palfrey (2011), o termo foi cunhado por Marc Prensky para denominar
aqueles que nasceram em um ambiente no qual as tecnologias digitais fazem
parte da vivência do indivíduo, notadamente após o advento da internet comer-
cial em 1995. Faz a distinção em relação aos “imigrantes digitais” que precisa-
ram se adaptar do uso do papel para o uso da tela.