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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

dade diversa de elementos: não apenas mensagens e sentidos,

mas também agentes em situação de produção e/ou de recep-

ção, tecnologias, lógicas, dinâmicas, contextos de comunicação,

naquilo que podemos chamar de

dispositivo conexial,

ou seja,

um sistema sócio-técnico-simbólico heterogêneo de matrizes

comunicacionais que possibilitam a conexão digital e organizam

a interação entre os agentes em rede. Não se trata da plataforma

Facebook, nemdo “católico”, nemda Igreja, nemde indivíduos ou

grupos específicos: mas das lógicas e matrizes que os articulam,

da dinâmica das suas ações comunicacionais, do ambiente por

eles gerado e que, por sua vez, os envolve, de modo complexo.

Quer em produção, quer em recepção, os interagentes

das redes digitais constituem-se e encontram-se mobilizados

por uma “ordem que os transcende”, que permite a comunica-

ção e que “se oferece como lugar de produção, funcionamento

e regulação de sentidos” (FAUSTO NETO, 2010, p. 8). Nos dis-

positivos conexiais, portanto, a própria comunicação em rede

se constituiu e se organiza. E, sendo um processo circulatório,

a comunicação é aquilo que, por meio da interação, institui di-

ferenças e divergências, e também

se institui

a partir delas. As

interações comunicacionais entre instâncias de produção e

instâncias de recepção – sejam estas a Igreja, os grupos católi-

cos, os indivíduos – não são produtos apenas de uma ativida-

de intencional e causal, mas sim de processualidades comple-

xas, em que nenhum dos polos detém o controle das dinâmicas

interacional-comunicacionais.

Nessa “multiplicidade de microesferas [religiosas] pú-

blicas digitais, plurais, heterogêneas, contraditórias” (PROULX,

2012a, p. 6, trad. nossa), a participação midiática ativa e poten-

cializa a participação e o engajamento político-eclesial, em que

a visibilização e a publicização midiáticas das crenças e práti-

cas de determinados grupos católicos levam ao reconhecimento

social e à aquisição de poder desses grupos na esfera pública e

socioeclesial – mesmo que nem sempre na esfera institucional

dominante. Isso aponta para o fato de que, em rede, a liberda-

de e a autonomia sociais católicas se contrapõem ao poder e ao

controle institucionais eclesiais. A rede nos ajuda a pensar a li-

berdade e a autonomia “como produção e como relação, e, indis-

sociavelmente, a pensar a liberdade como produtividade, como