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Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo

ciadas segundo o horizonte de estímulos e expectativas definidos

pelos agentes ofertadores. Como bem diz Jenkins: “A convergên-

cia representa uma transformação cultural [...] consumidores são

incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em

meio a conteúdos de mídia dispersos” (JENKINS, 2009, p. 30). O

autor está parcialmente em sintonia com o ponto de vista segun-

do o qual há uma transformação profunda sobre o acesso provo-

cado, por exemplo, pela internet, gerando novos tipos de relações

dos indivíduos com fenômenos midiáticos. Porém, trata de modo

superficial as mutações que esta nova paisagem produz sobre tais

relações, especificamente os modos como os atores individuais se

apropriam desta oferta midiática. No lugar do reconhecimento de

táticas e operações desenvolvidas pelos indivíduos, estes são es-

timulados a produzir outras formas de reconhecimento a partir

de estímulos que não contemplariam suas próprias estratégias de

apropriação. Por outras palavras, o pressuposto determinístico

da convergência não considera um aspecto capital: “Além de pro-

duzir mudanças inéditas nas condições de circulação, [a www]

[...] faz materialmente possível, pela primeira vez, a introdução da

complexidade dos atores no espaço público e, em consequência,

torna possível as estratégias de inumeráveis sistemas socioindivi-

duais à margem de lógicas do consumo” (VERÓN, 2013, p. 218). A

perspectiva sobre convergência formulada acima valoriza a pro-

blemática do acesso, mas não o trabalho sociossemiótico que os

atores ali realizam. Para reconhecer a especificidade e a dimen-

são deste trabalho, em termos individuais, é preciso diferenciar

a questão do acesso da mensagem daquela relativa aos sentidos:

Note-se que falamos de acesso às mensagens; não

fazemos nenhuma hipótese sobre o acesso aos

sentidos dos quais as mensagens são portadoras.

As condições de acesso às mensagens e as condi-

ções de acesso ao sentido são duas problemáticas

totalmente distintas. A primeira remete ao fun-

cionamento das regras econômicas explícitas que

definem o mercado da oferta discursiva dos meios

e corresponde na verdade a uma análise em pro-

dução; a segunda fica no momento inteiramente

aberta, corresponde a uma análise em reconheci-

mento (VERÓN, 1997, p. 14 e 15).