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Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo

também tem “a capacidade de capturar, orientar, determinar, in-

terceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos, as condutas,

as opiniões e os discursos dos seres viventes” (AGAMBEN, 2005,

p. 13). O conceito de dispositivo implica assim “uma articulação

entre ferramentas e conteúdos, e provavelmente usos bem es-

pecificados e identificados como tais”, podendo ser entendidos

como “configurações sociotécnicas” que fornecem “bases refor-

çadas para a midiatização da comunicação” (GRESEC II apud

MIÈGE, 2009, p. 187).

Como aponta Agamben, teríamos uma “geral e maciça

divisão do existente em dois grandes grupos ou classes: de um

lado os seres viventes (ou as substâncias) e de outro os dispo-

sitivos nos quais estes estão incessantemente capturados”. Para

o autor, a partir da relação entre uma pessoa e o dispositivo,

nasce o sujeito: “O usuário de telefones celulares, o navegador

na internet, o escritor de contos” (AGAMBEN, 2005, p. 13), etc.

Nesse sentido, os dispositivos conexiais fazem surgir um deter-

minado sujeito midiatizado e trazem “uma mutação nas condi-

ções de acesso dos atores individuais à discursividade midiática,

produzindo transformações inéditas nas condições de circula-

ção” (VERÓN, 2012, p. 14). O dispositivo comunicacional da rede

permite que qualquer usuário produza conteúdos, como vimos

no caso do próprio catolicismo em sua reconstrução sociocomu-

nicacional em rede. Assim, pela primeira vez, “o usuário tem o

controle do

‘switch’

entre o privado e o público” (VERÓN, 2012,

p. 15). A partir desses deslocamentos, os dispositivos midiáticos

digitais, portanto, aprofundam a complexidade da experiência e

da construção de sentido religiosas, em sua conectividade.

Por outro lado, para Kerckhove (1999), a “essência de

toda rede” é precisamente a conectividade. Para ele, a internet

é “o meio [mídia]

conectado por excelência

, é a tecnologia que

torna explícita e tangível essa condição natural da interação hu-

mana” (KERCKHOVE, 1999, p. 25, tradução e grifo nossos). Para

o autor, o conectado se tornou uma alternativa ao individual e

ao coletivo. Em termos psicológicos, a conexão é o núcleo do

bem-estar psicológico, uma necessidade humana básica, enrai-

zada na existência humana, pois rompe com o isolamento, sendo

uma qualidade essencial para o estabelecimento de relações (cf.

RICE, 2009). Percebe-se ainda mais a sua importância nas expe-