Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
Com esse intuito, o UGC é um marco tecnológico e so-
cial na exploração dos jogos digitais. Flichy (2013) observa esse
fenômeno em um aspecto geral. A ideia por trás do YouTube, por
exemplo, demonstra a hipótese de substituição na produção de
conteúdos originais por um investimento na capacidade criati-
va (e de trabalho) dos usuários. Quando os utilizadores da rede
de vídeos
online
publicam seus vídeos e assistem aos conteúdos
postados por outros produtores amadores, o YouTube opera
apenas como âncora para essa interação. O problema referente
à exploração do trabalho gratuito está contido aí e em relação à
estratégia acerca de Arma 3. A proposta de que a expressão indi-
vidual de alguns usuários pode, em longo prazo, resultar em uma
programação capaz de atrair maior público revela os atrativos
comerciais dessa dinâmica.
Ainda que tenha desenvolvido os fundamentos do jogo,
o estúdio responsável delega a seus consumidores a perpetuação
do título. Esse investimento depende, logicamente, do empenho
que os jogadores terão em desenvolver e buscar contribuições
da comunidade. Para a empresa isso é benéfico não apenas como
divulgação, mas também porque reduz o corpo de profissionais
trabalhando na complementação do produto, atividade parado-
xalmente atribuída aos próprios compradores.
Flichy (2010) entende que essas duas categorias, os con-
sumidores e os produtores, respondem pela lógica de funciona-
mento de duas forças eventualmente complementares, amadores
e especialistas. Enquanto os especialistas mantêm sua hegemonia
no mercado, os amadores estariam alcançando uma posição de
destaque. A projeção que conseguem com as novas tecnologias de
informação conduz a um reordenamento forçoso das mídias para
que sobrevivam. Fausto Neto (2009) assevera: “É a ameaça de per-
manecer em uma ‘zona de solidão’ que leva as mídias, na sua mais
diversa natureza, a redesenhar seus ambientes e, sobretudo, seus
protocolos de interação com os seus consumidores”. Assim, para
lembrarmos alguns exemplos, o jornalismo vem cedendo espaço
às contribuições dos leitores, a indústria musical vem investindo
na divulgação de clipes no YouTube, os estúdios de cinema vêm
mantendo canais de divulgação no Facebook.
E, justamente, coincide com a importância dada ao re-
ceptor, nos estudos do campo da Comunicação, o entendimento