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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

roubar (risos); só para o senhor entender, com a

minha comissão que eu ganho é 35%, mas não dá,

desse jeito não dá. E eu fiquei pensando, é, rapaz,

tu tá roubando o teu patrão, e com a maquininha

tu não rouba (risos). Aí eu pensei, meu Deus, eu

tô andando com um ladrão aqui, o motorista aqui,

misericórdia, tá amarrado (risos), em nome de

Jesus. Tá roubando o patrão e é brabo, né, gente?

(Transcrição literal).

Diante desta narrativa, insiro uma tentativa de dialogar

com o ato de doar. Nosso artigo também se propõe analisar estas

doações através das chamadas novas tecnologias e tentar enten-

der a forma de interpretação e apropriação realizada pelas pes-

soas que, de certa forma, reagem naturalmente ao novo, tirando

proveito do invento. É claro que o espaço é curto para continuar-

mos descrevendo a história da relação do homem com o sagra-

do, suas trocas materiais e até financeiras, mas continuamente

afirmando que o homem possui a necessidade de comunicação,

seja entre seus pares ou mesmo em relação aos seus deuses.

Podemos ainda afirmar que sempre houve trocas no ambiente

religioso, que, independentemente dos meios ditos modernos,

não se alteraram as intenções, e onde surgiu uma forma de me-

diação, a religião apropriou-se dela para continuar a comunica-

ção com seus interessados, os fiéis e o mundo dos mortos. Com

efeito, são os deuses os verdadeiros proprietários das coisas e

dos bens do mundo. Com eles era mais necessário intercambiar

e mais perigoso não intercambiar (MAUSS, 2013, p. 31).

Como pesquisamos mídia e religião, não conseguimos

fugir do tema, diante de uma situação que nos provocou questio-

namentos – o dízimo, o cartão de crédito e o método pedagógico

para inserir este novo meio em outro, de uma forma muito tran-

quila. Através de parábolas atuais, o pastor missionário vai de-

monstrando o uso do dispositivo e convencendo as pessoas a digi-

tar na “maquininha”, falando somente das vantagens que ela pro-

porciona. Assim se dão as trocas, não somente as simbólicas, mas

também as financeiras e a da contribuição online, que acontece

de verdade, ultimada numa transação mercantil de um resultado

de uma motivação religiosa. Além disso, essa maquininha produz