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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

sentido, pois é mediadora de uma intenção, que deixa marcas, que

não deixa dúvidas tanto para quem dá como para quem recebe;

além do ato de doar, ela registra o recibo que comprova diante do

destinatário, que é Deus, que o seu valor está em um lugar segu-

ro e comprovado. Aqui há a quebra do versículo bíblico: 3 “Mas,

quando você der esmola, não saiba a sua mão esquerda o que está

fazendo a direita” (Mateus, cap. 6, vers. 3, citado conforme a

Bíblia

e Harpa Cristã

). É a máquina mediando entre o mundo profano do

capital e o do sagrado. Colocar a mão no bolso e doar foi substi-

tuído pela digitação. Do ponto de vista das intenções não mudou

nada; o status continua, talvez somente a discrição que foi afetada.

Mas com certeza, se algum dia haver um acerto de contas com

Deus quanto ao pagamento do dízimo e a contabilidade “não fe-

char”, basta apresentar os recibos.

Como Proulx afirmou, na transação mercantil se depo-

sita alguma coisa e se tira proveito disso. O usuário é produtor

de conteúdo e fornecedor de dados, pois, ao produzir conteúdo,

ela deixa rastros com informações captadas. Assim ocorre quan-

do se introduz o cartão magnético na “maquininha” – vamos

continuar chamando assim o que sabemos que é uma leitora de

cartões de crédito que envia dados ao banco, creditando ou de-

bitando valores em moeda virtual. É uma forma de moeda que

substitui a nota impressa em papel, mas nunca se deve esquecer

que o limite é de acordo com o saldo disponível na conta e este

valor dependerá do quanto recebemos e economizamos para tal

fim. O agente desta operação vai deixando rastros, como infor-

mações ao banco, ao fornecedor, ao governo, à administradora

do cartão e ao cliente. Ao final, permanece uma dúvida: será que

é uma metodologia tão segura assim? E os clones, golpes de lei-

tura de senhas, etc.? Será que o sistema de controle por parte do

Estado, falta de privacidade, não estariam em primeiro lugar?

O que é inegável é que a moeda é virtual. Sua materialidade se

tornou algoritmos, tanto no ganho como no gasto. Aquela sen-

sação de pegar, contar o dinheiro no caixa está se extinguindo.

O controle não é mais seu, e sim de alguma empresa que cobra

para administrar o que você possui para gastar, e todo excesso

custará muito caro.

Esse é um tema polêmico que provoca indagações teo-

lógicas que não discutiremos aqui. Nossa intenção é entender