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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

O Livro dos Mortos é uma prova da necessidade de me-

diação no âmbito religioso entre mundos, ou seja, o dos vivos e

o dos mortos. Diante de narrativas históricas, podemos inferir

também um grande esforço de mediação entre tais desenhos e

hieróglifos, alimentando o imaginário religioso daquelas pes-

soas. Percebe-se também que a necessidade de mediação não se

dava somente entre os vivos, mas principalmente entre vivos e

mortos e também no pós-morte. Dessa necessidade surge uma

tradição religiosa que aprimora as técnicas ritualísticas e, con-

comitantemente, surgem aparatos para consumo e profissionais

da religião, especialistas que dominam um assunto sagrado, o

que os torna pessoas “mais especiais”. Entretanto, além do espe-

cialista religioso, a escrita e o suporte para registrá-lo também

se completavam, ou seja, eram naqueles tempos longínquos os

primórdios de uma religião mediatizada. Ainda citando o Antigo

Livro dos Mortos, vamos encontrar a seguinte afirmação:

Em tempos muitos remotos, os egípcios convocavam

o

religiosoprofissional

para pronunciar palavras de

bom augúrio diante do cadáver do parente ou amigo,

e mais tarde se acreditou que as mesmas palavras,

escritas em alguma substância e enterradas com o

morto, eram eficazes na obtenção, para ele, das boas

coisas da vida de além-túmulo. No texto encontrado

na pirâmide de Unas (1.583) faz-se referência a algo

escrito que se supunha pertencer ao falecido, nas

seguintes palavras: - “O osso e a carne sem

escrita

são desgraçados, mas eis que a

escrita

de Unas está

debaixo do grande selo e eis que ela não está debaixo

do pequeno selo.” E no texto encontrado na pirâmide

de Pepi I, as palavras: “O uraeus deste Pepi está sobre

a sua cabeça, comuma

escrita

de cada lado, e ele tem

palavras de poder mágico a seus pés; assim equipa-

do, o rei entra no céu” (p. 42; grifo nosso).

Considerações finais

Comungamos da ideia de que o dinheiro não é mais

importante que a motivação de doar; a compensação, cujos re-