Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo
lógicas, que têm como característica uma produção de conteúdo
centrada na especialização, feita para atingir um público amplo e
organizado em torno de um modelo de negócio sustentado pelos
anúncios publicitários. Ao propor a quebra deste modelo hege-
mônico, os defensores de um novo tipo de comunicação centrado
nas trocas entre atores individuais nas redes digitais, sobretudo
na internet, deparam-se com importantes questões sobre a pro-
dução de conteúdos de qualidade que mantenham uma regulari-
dade e possam remunerar seus produtores. Estariam os usuários
dispostos a pagar diretamente pelo conteúdo? Afinal, empresas
como Google, Facebook e Yahoo obtêm seus lucros com a publici-
dade, e a maioria destas comunidades virtuais funcionam sobre
estas plataformas. “Tratando-se das comunidades virtuais, colo-
ca-se a questão de saber como podem dar lugar a práticas sociais
diferentes, solidárias e desinteressadas, em um contexto no qual
a Internet está cada vez mais sob a influência de lógica mercado-
lógica” (Miège, 2009, p. 41).
As técnicas de comunicação digital não garantem, por si
mesmas, as condições necessárias para o funcionamento de uma
“sociedade em rede”. As dimensões econômicas e sociais confi-
guram-se como extremamente importantes para a consolidação
dos usos dos meios antes que se configurem como práticas so-
ciais. Há aí uma defasagem entre usos e práticas que deve ser
levada em consideração. O fato dos atores estarem utilizando as
TIC como espaços colaborativos em blogs, chats, redes de rela-
cionamento, etc. se estabelece como prática social a partir do
momento em que há uma certa estabilidade ao longo do tempo
com um certo número de praticantes. A ação comunicativa indi-
vidual ou de pequenos grupos não se configura como novidade,
na medida em que uma “generalização das relações públicas”
(MIÈGE, 2009) vem sendo tecida desde os anos 70, e o que as TIC
proporcionaram foi uma amplificação desta individualização.
Não se trata de uma nova ciberdemocracia utópica, na
qual o marxismo e o liberalismo dariam as mãos para que os ato-
res individuais se estabeleçam como automídias. Ao contrário,
uma grande maioria de usuários está longe de se reconhecer
como um cibercidadão interessado em conhecimento coletivo.
Apenas uma parte dos usuários, que Miège chama de “tecnófi-
los”, apropria-se dos aperfeiçoamentos técnicos para construir