

Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo
organizaria em torno da rede. Apesar de ser verdade que a aber-
tura da Internet ao público em 1994 multiplicou as “formas ho-
rizontais de comunicação” (nas quais atores sociais passam da
condição de receptores para a de produtores de conteúdo), pro-
porcionou um aumento na circulação da informação e potencia-
lizou a transnacionalização da cultura, devemos ter cuidado em
transformar estes fatos em sinais de profecias capazes de prever
o destino da sociedade, talvez ainda muito enraizadas na uto-
pia da Idade Moderna, que acreditava que o conhecimento das
ciências naturais e as inovações técnicas dariam respostas para
problemas que hoje sabemos serem de outras ordens.
A imprecisão do discurso que antecipa os usos é de-
monstrada por Miège em diversos materiais empíricos, buscan-
do evidenciar como os profetas da sociedade da informação têm
se equivocado recorrentemente em suas previsões. Entre alguns
dos estudos citados, está um encomendado pela CNET da di-
reção geral das telecomunicações na França (France Telecom),
intitulado “
Novos serviços: um desenvolvimento complexo
”, que
pretendia subsidiar a elaboração de uma lista das ofertas téc-
nicas esperadas para o ano 2000. Mesmo realizando as análi-
ses com prudência, uma comparação dos resultados com o que
aconteceu de fato revela uma antecipação dos usos que se mos-
trou prematura, como a superestimação das possibilidades da
videofonia e serviços interativos relacionados à TV e ao cinema,
e a falta de perspectivas aos cenários que não poderiam ser pre-
vistos naquele momento, como o crescimento da telefonia móvel
e o uso da Internet em larga escala.
Concluímos portanto que o exercício da previsão
está aqui posto em xeque, antes de tudo por se re-
velar incapaz de vislumbrar as inovações mais im-
portantes na medida em que estas dependem for-
temente da coordenação, negociada ou imposta,
das estratégias dos principais atores industriais,
assim como das mudanças nas práticas sociais dos
usuários-consumidores (MIÈGE, 2009, p. 30).
A lista dos que se arriscaram a prever o futuro e tive-
ram que repensar suas previsões, na medida que estas não se
realizavam, é extensa, e uma revisão bibliográfica mais cuida-