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Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo

Miège nos alerta que, durante as últimas três décadas,

alguns teóricos têm apostado suas fichas naquilo que denomina

“tecnodeterminismo”, ou seja, na proliferação de discursos so-

ciais que atribuem os problemas da comunicação/informação

2

às questões técnicas, como que acreditando que as “inovações”

pudessem garantir uma espécie de revolução tecnológica e co-

municacional que, por sua própria constituição, poderia arras-

tar a reboque processos e práticas sociais. De forma ponderada

e consistente, Miège argumenta que as próprias concepções do

que sejam estes “novos meios de comunicação”, tanto para as

correntes francófonas denominadas TIC (

Techniques de l’Infor-

mation et de la Communication

) quanto para as de origem anglo-

-saxônica chamadas

New Media

, parecem confusas e imprecisas.

O que, de fato, definiria as TIC como mídias novas? Em que dife-

rem das “antigas”, como TV, rádio, jornais, etc.? Há evidências de

que suplantarão as mídias tradicionais?

Parece haver, mesmo depois de diversos profetas da

“era da informação” terem recorrentemente se equivocado em

suas previsões, uma insistência na ideia de uma sociedade que

se (re)estabeleceria através da tecnologia de conexão em rede,

que provocaria um novo comportamento social compartilhado,

uma nova política participativa e, consequentemente, um novo

tipo de economia baseada na confiança e na interação perma-

nente entre os agentes conectados. Por mais que nossos interes-

ses pessoais não estejam ausentes, este futuro que nunca chega

demonstra a pregnância do louvor às técnicas comunicacionais,

que se apresenta de forma sedutora e assimilável nos diversos

campos sociais, como publicidade, jornalismo, educação, ciber-

nética e tantos outros.

É verdade que as críticas não faltam: tanto as rea-

ções morais de Jaques Ellul contra o “blefe tecno-

2

Bernard Miège defende que a comunicação e a informação configuram o objeto

de estudo de um campo específico das ciências e não devem ser estudadas sepa-

radamente. “As significações de Informação e de Comunicação que circulam são

múltiplas; há termos plurissemânticos cujo significado é intrincado e confuso.

Mas, para ir ao essencial, deve-se reter que a informação represente o conteúdo

que é difundido através dos canais e utensílios de comunicação. Isso é assim

desde a civilização suméria, e os primeiros tabletes de argila reproduziam tex-

tos administrativos” (MIÉGE, 2012, p. 35).