Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo
Embora na análise de usos de tecnologias geralmente
sejam enfatizadas as competências cognitivas necessárias para
o domínio das ferramentas, Miège observa que outras compe-
tências comunicacionais são constituídas no processo de forma-
ção de novas “normas de ação”. Tais competências “estão cada
vez mais presentes na administração pelos indivíduos de sua
vida cotidiana” (MIÈGE, 2009, p. 97) e têm implicações na vida
de indivíduos e grupos familiares. “A midiatização crescente de
toda uma série dessas ações deve ser relacionada com uma ten-
dência à individualização dessas práticas sociais [...] que supõem
aí também a criação de competências comunicacionais, que são
novas para a maioria das pessoas” (2009, p. 98).
Essas competências, embora socialmente experimen-
tadas e desenvolvidas, não estão sendo suficientemente inves-
tigadas ou aprendidas. Elas podem ser compreendidas como as
“normas de ação que cada vez tomam mais importância mesmo
que finalmente não sejamos formados para adotá-las” (MIÈGE,
2012a). Como exemplos, a presença à distância que se estabe-
lece em teleconferências, a responsabilidade em rede entre pro-
fissionais da saúde, os telesserviços, a midiatização da educação
(com redução de custos pela diminuição dos professores), a va-
lorização de uma “autonomização” dos estudantes (que teriam
que ter um perfil de “pesquisador”’), a conjugação da “escrita,
mais imagem, mais o som, mais o gráfico”, ainda caracterizando
uma somatização e não multimídia, o uso de ferramentas da in-
ternet em campanhas políticas.
Embora as ferramentas possibilitem uma ampla dis-
cussão de temas que interessam à esfera pública, Miège (2012a)
salienta que “não é a ferramenta que faz a participação, a cola-
boração, mas é o interesse da pessoa nos assuntos”, o fato “de ter
os meios de poder participar e não somente de assistir”. “A valo-
rização do usuário que produz seus próprios produtos é impli-
cada na relação que ele tem com os industriais da comunicação”,
de duas formas: com as mídias instituídas e com as indústrias
Apple, Google, Facebook.
Miège considera ser preciso evitar tomar “mídia” num
sentido muito amplo, que englobaria tudo, como também evitar
pensar que há uma substituição das mídias pelas TICs. As mídias
são