Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo
questionamentos sobre a “superioridade dos dispositivos técni-
cos e suas pretensões de substituir aqueles [dispositivos] ainda
disponíveis” (MIÈGE, 2009, p. 81). Estas proposições frequente-
mente efetuam procedimentos de oposição, como tradicional/
moderno, antes/depois, material/imaterial, real/virtual, entre
outros, que estão na base de “visões substitutivas ou substitu-
tas”, quando se entende que ocorre uma imposição da midiatiza-
ção sobre um modo de comunicação plurimilenar.
A teorização de Miège (2009, p. 82) opta por uma pers-
pectiva societal e histórica, que tensiona as visões substitutivas,
por dar ênfase às “continuidades, complementações e mestiça-
gens e não às rupturas e mutações radicais”. Miège observa como
a perspectiva “(neo) comunitária” (2009, p. 86) marca o registro
de modificações nas relações sociais/conexões, modificações e
até mutações na circulação da informação, transformações nos
meios de comunicação:
É verdade que uma relativa midiatização das me-
diações e das relações interindividuais é incitada,
como temem vários trabalhos setoriais [...]; contu-
do, as contribuições dos autores desses trabalhos
não permitem concluir significativas mutações
destinadas à midiatização da comunicação. Antes,
nos interessamos pela hipótese de um individua-
lismo conectado à técnica, esta suscetível a se re-
ferir/afetar os indivíduos transversalmente aos
diversos campos sociais e aos espaços privativos,
públicos e de trabalho (MIÈGE, 2009, p. 87).
Conceitualmente, Miège desenvolve esta hipótese re-
fletindo sobre noções que relacionam sociedade de massas e in-
dividualismo. Critica a ausência de pesquisa empírica a embasar
a afirmação de Wolton de que a conexão levaria ao isolamento.
Critica igualmente a conclusão de um “individualismo conecta-
do” pela técnica, de Flichy, com indivíduos “mais autônomos e
mais controlados na vida privativa e na vida profissional”. Miège
considera que Flichy parte de “análises de traços marcantes das
sociedades contemporâneas”, mas, por tratar mais de sociabili-
dade que de comunicação, a conclusão opõe o social e a técni-
ca, minimizando a “existência de mediações múltiplas na inte-