Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo
comentam, curtem e compartilham o que consideram relevante,
e é aí que o conceito de relevância se perde nas entranhas dos
filtros. Considerando que o desenho de um algoritmo é a ela-
boração de instruções para a resolução de um problema, Corrêa
e Bertocchi (2012) realçam o componente humano nos proces-
sos de curadoria. As autoras entendem que o conceito de algo-
ritmo pode ser pensado como um procedimento capaz de ser
executado por homens e não somente por máquinas, o que am-
pliaria seu “potencial de acuidade associada à personalização”.
No caso do Facebook, exemplificam esse componente explican-
do que a ordenação dos elementos é feita por critérios de impor-
tância definidos pelo programador da empresa. Dessa forma, o
problema do algoritmo do Facebook (e também de outros siste-
mas baseados em personalização e recomendação) é justamente
a quem está atribuída a tarefa de definir esses critérios. No site,
o controle de circulação das informações é potencializado pelos
próprios usuários, que, como explica Pariser (2012), não aces-
sam outras fontes, restringindo suas atividades de navegação e,
muitas vezes, limitando-se a acessar notícias unicamente atra-
vés de sites de redes sociais
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. Nesse sentido, Corrêa e Bertocchi
(2012) ressaltam a necessidade uma “relação entre sofisticação
do algoritmo e correspondente intervenção humana especiali-
zada (o comunicador) no processo de sua construção”. Isso sig-
nifica que, quanto mais informações o algoritmo exigir para ser
modelado, mais a participação do comunicador como alimenta-
dor do modelo deveria ser exigida, refinando, assim, a vida útil
do algoritmo. A argumentação das autoras é sobre o papel do
comunicador num cenário de curadoria em que diferentes algo-
ritmos selecionam e distribuem conteúdo, mas é adequada aqui
para pensar a pró-atividade que qualquer usuário de Facebook
poderia empregar na utilização do site.
Essa pró-atividade se torna ainda mais relevante quan-
do se percebe que, ao longo dos anos, o Facebook vem incorpo-
rando diversas funcionalidades, que contribuem para processos
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Ocorre, nesse sentido, o que Pariser (2012) chama de
aprisionamento tecnoló-
gico
: os usuários ficam tão dependentes do uso de uma determinada tecnologia
que não entendem a necessidade de oxigenar esse uso com outras possibilida-
des, e acabam não utilizando outras ferramentas.