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Redes digitais: um mundo para os amadores.

Novas relações entre mediadores,

mediações e midiatizações

A consagração promovida pelos fãs é homóloga àquela

que Flichy relata sobre os amadores, no entanto empreendimen-

tos como a Wikipédia representariam melhor sua expressão por

considerarem processos criativos que não obedecem às narrati-

vas da indústria. De fato, fãs não são profissionais, mas são arte-

sãos que moldam objetos da cultura popular segundo vontades

recreativas e interacionais, o que exige tempo de dedicação. É

possível, portanto, que esse aprendizado promovido no

fandom

atraia atenção do mercado não só em projetos publicitários, mas

também como mão de obra capacitada a trabalhar, em virtude de

sua criatividade e conhecimento.

Assim, em relação à experiência cultural contemporâ-

nea é necessário um esquema explicativo que contemple todos

os aspectos realçados: indústrias de conteúdo, observadores, fãs,

estruturas de interação e promotores das interações.

Seria proveitoso que em pesquisas futuras se dê conti-

nuidade a uma agenda de trabalho com a categoria fã primando

pelas práticas que executa ao longo do tempo, desde os primór-

dios modernos, onde se molda em suporte a Star Trek. Entretanto,

esses atos estão em processo formativo, sobretudo no que diz res-

peito às novas mídias. É curioso notar preliminarmente que, ape-

sar da proclamada revolução dos meios digitais, os consumidores

continuam a se basear nas mídias tradicionais. A ausência de su-

cessos narrativos que se baseiem exclusivamente na rede digital

à primeira vista seria considerada indicativo do grau de integra-

ção entre as plataformas comunicativas (recentes e consolidadas),

mas talvez represente a ausência de estratégias midiáticas nesses

ambientes. Como candidatos em potencial para preencher essa la-

cuna se encontram as indústrias de conteúdo em parceria com as

tecnológicas e, menos provavelmente, os criadores autônomos.

A pergunta que nos guiou até agora, se as práticas dos

fãs na rede mundial de computadores configuram continuação

ou ruptura com os procedimentos do século passado, só apre-

senta considerações inacabadas. Mas arriscamos observar que

há mais similaridades do que divergências entre o processo ava-

liado por Jenkins em 1992 e a situação dos fãs de Harry Potter. A

principal alteração seria o alcance e a forma de difusão das cria-

ções amadoras, que igualmente prestam reverência à indústria

da cultura sem ameaçar as macronarrativas.