Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
4 Quem interage? Que ambiente se configura?
Ao contrário do que supõe uma visão interacionista
ingênua, o contato inaugurado pelos usos, práticas e apropria-
ções dos meios não é entre iguais. Primeiro, porque não se trata
apenas de indivíduos conectados, como é proposto por vários
autores. Não há, aqui, exatamente, indivíduos. O termo ator, mui-
to utilizado nas pesquisas sobre midiatização, também tem seus
débitos – os mesmos do interacionismo que o alcunhou. Se há,
em relação aos meios semio-técnico-discursivos, usos que nos
permitem falar em atores, há camadas de práticas, a serem in-
vestigadas na pesquisa empírica, sobrepostas geologicamente,
o que nos demanda falar de estruturas estruturadas que são es-
truturantes. Perante essas camadas, o ator não responde apenas
ao contexto imediato, mas está assujeitado ao contexto mediato,
histórico e social, em que está inserido. Por outro lado, esse indi-
víduo-ator está interagindo com meios que são apropriados por
organizações e instituições, o que reduz mais ainda seu espaço
de liberdade. Porém, como os meios estão permanentemente
sendo investidos de novas camadas, em relação às quais não há
contratos, códigos e práticas, emerge um processo de usos, prá-
ticas tentativas e apropriações incertas.
Nas pesquisas sobre midiatização, temos falado, em
geral, em instituições midiáticas e midiatizadas. Questiona-se o
termo instituições. Sugere-se outro, em tensão (organizações).
Instituições midiáticas se refere a organizações cujos fins são
direcionados à comunicação midiática. Formam um campo no
sentido de posições (jornais, sites, redes digitais específicas,
etc.) e desenvolvem um
habitus
midiático que é sobreposto pe-
los usos, conforme proposições acima. Já instituições midiatiza-
das são organizações cujos fins são específicos dos campos a que
pertencem (escolar, jurídico, policial, econômico, etc.). Ambas,
entretanto, são atravessadas pelos grandes mercados, definidos
pelas formas de acumulação, distribuição, circulação, etc. de ca-
pitais – econômicos, políticos e culturais.
Nesta perspectiva, a lógica da comunidade – espaço da
participação, da gratuidade, da generosidade, do dom, na forma