Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
Estas notícias e informações podem ser produzidas no formato
de artigos, vídeos e imagens, por “amadores” ou profissionais,
ampliando as formas de apropriação tecnológica, seus usos e
a reconfiguração dos sentidos no âmbito da circulação. Desse
modo, a organização dos processos comunicacionais evidencia
o
poder de agir
na cultura de contribuição (PROULX, 2012b),
pois se configura para além dos espaços digitais, de forma a
construir sentidos do ponto de vista do contribuidor.
Proulx (2012c) observa as passagens do capitalismo
– as quais são expressamente amplas em seu conteúdo explica-
tivo – pelo capitalismo industrial, pelo capitalismo dos anos 30
aos anos 40, pelo “compromisso fordista”, até chegar à última
passagem analítica do capitalismo contemporâneo. Esta última
fase é encarada como o capitalismo que alcança o seu “ponto
nevrálgico”, de acordo com as transformações profundas das
TICs, a globalização e o deslocamento da força de trabalho “in-
visível” dos contribuidores. Assim, Proulx articula uma crítica
na qual considera as TICs como vetor de uma economia do co-
nhecimento. Ele sugere a transformação do processo comunica-
cional como um modo estratégico e desafiador para interpretar
corretamente as mutações sucessivas do capital. Proulx con-
sidera ainda que, no contexto da
financeirização
da economia
globalizada, que pode ser entendida como o capital fictício
11
, as
TICs são condutoras de importantes transformações no modo
de produção e no capitalismo informacional.
Vale lembrar que, no entanto, a dimensão diacrônica
das mudanças tecnológicas e do acesso aos meios digitais para
homens e mulheres de diferentes classes e países (HIRATA,
2002) implica mutações da comunicação também distintas.
Ocorre que essa midiatização altera as relações sociais inde-
pendentemente de uma globalização do acesso tecnológico,
pois “corresponde às dinâmicas mais amplas, produzidas por
processos complexos, que incidem sobre a organização e fun-
11 Dentre os conceitos marxistas que podem ser bastante atuais está o de ca-
pital fictício, que explica a financeirização da economia. “Essa financeirização,
produzida pelo crescimento desmesurado da riqueza financeira (frente ao
crescimento da riqueza real), implica a submissão da totalidade do sistema
econômico aos imperativos da lógica financeira da acumulação, o que garante
a continuidade do crescimento dessa mesma riqueza” (PAULANI, in FACHIN;
WOLFART, 2008, p. 7).