Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
concentram-se em coletivos que foram relegados pela mídia
tradicional à invisibilidade e agora fazem dos espaços públicos,
como as ruas e os espaços digitais, novos meios de comunicação
e organização, na tentativa de retomar a participação política,
alternando “o foco da comunicação para suas articulações com
as (novas) tecnologias e suas processualidades” (SANTI, 2013,
p. 84). Partindo-se do viés da midiatização, considerando a
mídia como agente de mudança cultural e social, observa-se que
a
web social
, ou web 2.0, como é conhecida nos estudos brasilei-
ros, inaugura a fase de plataformas de mínimo esforço cognitivo,
com coletivos de uso
online
, em modelos econômicos baseados
na lógica de colaboração. Essas intervenções e seus conteúdos
partem frequentemente de usuários amadores ou leigos. Ao
contrário do que ocorre com os meios massivos, na web a in-
formação flui de maneira mais horizontal (PROULX, 2012a) e
descentralizada. Consequentemente, possibilita a diversificação
de assuntos de interesse público, informações alternativas e crí-
ticas para a construção de uma sociedade mais livre e igualitária.
Assim, da perspectiva de uma matriz social-sociológi-
ca da midiatização, relacionada à dimensão socioantropológica,
pois abarca a constituição de campos sociais, ocorre uma dis-
tribuição mais direta de informações que interessam aos frag-
mentados grupos sociais. Esse novo mecanismo de emissão/
recepção interfere diretamente na forma como os assuntos são
agendados socialmente.
Incompatíveis na lógica de mercado capitalista, ética,
objetividade e valores-notícia acabam, nos dias atuais, por des-
truir a base de sustentação e credibilidade de um jornalismo
cada vez mais sensacionalista e escopofílico.
Além de uma crise econômica, vive-se uma crise no de-
senvolvimento sociocultural, uma ruptura radical em torno do
valor “dinheiro” e um desejo imoderado de acumulação, ou o
"triunfo da ganância" (STIGLITZ, 2010). Nesse sentido, a cultura
tecnológica “se manifesta como a emergência contemporânea
de novas formas de construção social da existência humana”,
expressa nos processos de midiatização social. A partir deste
viés, a mídia é marcada pela dualidade de ser “parte do tecido
da sociedade e da cultura e uma instituição independente que se