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Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo

das técnicas e tecnologias até os modos de produção é uma das

grandes heranças da crítica à economia política, desenvolvida

por Marx. Inserida em relações sociais de produção, a técnica

e tecnologia não produz, em si, valores sociais. É sempre meio

acionado por outros valores – no caso, a valorização do capital

econômico. Porém, uma vez mobilizada como força produtiva

(objetivada especialmente em capital constante, portanto, traba-

lho morto, se utilizarmos a terminologia marxista), a tecnologia

ingressa num conjunto de relações sociais de valorização, onde

as ações e interações sociais passam a ser centrais – nas relações

com a natureza e com o social. O capital, inclusive o imobilizado

em tecnologias, passa a mediar as relações entre trabalho, técni-

ca e tecnologias.

A midiatização contemporânea é parte destes proces-

sos, como sugere a linhagem de pesquisa em economia políti-

ca da comunicação. Nesse sentido, pode-se falar em separação

entre trabalho, técnica e tecnologias também no que se refere

à produção social de signos, linguagem e discursos, visando a

interações sociais e com a natureza. Essa separação é indisso-

ciável da apropriação pelos capitais dos meios tecnológicos, de

produção, consumo e circulação, de informação e comunicação.

Porém, essa condensação não nos permite concluir que

a sociedade seja unidimensional.

O primeiro argumento se refere à inserção da tecnolo-

gia em processos interacionais e semiocognitivos. A tecnologia

se inscreve na semiose, como materialidade-signo manifesto em

interfaces com as linguagens, acionadas pela ação e interações

sociais como imaginários, referências e símbolos tentativos.

Especificamos essa proposição diferenciando o lugar do tecno-

lógico e da técnica como objetos-signo das funções e operações

semiocognitivas que se mobilizam durante os usos sociais das

mesmas. Esse processo remete ao conceito de formas de produ-

ção social de sentido.

Em segundo lugar, porque a apropriação é especifica-

da conforme a força econômica – a cultura, a política e a eco-

nomia –, o que produz conflitos, contradições e tensões entre

campos que desenvolvem valores singulares. Este processo é

histórico, desde a gênese. A apropriação das técnicas e tecnolo-

gias de linguagem, discurso e interações com a sociedade e na-