Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo
uma mesma infraestrutura. A reorganização no audiovisual em
direção ao
streaming
depende de
software
, instrumento essen-
cial ao processo de digitalização.
Uma especificidade do
software
reside em seu caráter
dúbio (CHUN, 2011). Este instrumento de programação possui
uma dimensão concreta, por operar como uma linguagem capaz
de realizar tarefas. Porém, dada a sua natureza como informa-
ção, suas operações dependem recorrentemente de sua dimen-
são imaterial. O caráter concreto e evanescente transforma-se
na contradição necessária de apreender. A natureza do
software
como código – um dado tão objetivo quanto inapreensível – de-
fine a natureza do digital: a possibilidade de, a partir de um pro-
cessamento matemático, emular atividades as mais diversas.
Esta proposição permite inferir outras. Curiosamente,
a imagem sobre as tecnologias de informação se inspira nas atri-
buições do próprio homem (BOLTER, 1984). O
software
congre-
ga a capacidade de lidar com informações a partir de metáforas
humanas. A partir daí, processa instruções sobre tarefas pos-
síveis de se realizar. Como consequência, desdobra ações con-
cretas, capazes de produzir efeitos. Estes atos se mostram como
elementos possíveis de se programar. Entre as tarefas computá-
veis, encontra-se o armazenamento de dados, como um tipo de
memória: em específico, uma memória em constante expansão.
Novamente, contradições. Criar era uma possibilidade humana;
entretanto, criar por programação surge no limite do desumano;
lembrar era coisa do homem; mas nossa memória procede por
esquecimento, e não somente por assimilação.
O
software
se encontra na fronteira entre o humanismo
e sua dissolução. Capacidades até então exclusivas ao homem
– em particular, a possibilidade de lembrar – reorganizam-se,
assemelhando-se a código. A memória programável – huma-
na, pois remonta à imagem de um atributo caro a esta criatu-
ra; desumana, por esgotar seu potencial ao confiscá-la para o
software
– procede na programação por um movimento inexo-
rável de acumulação de novas funcionalidades, apropriando-se
de habilidades e reproduzindo-as através do
software
. Como
marca, a programação indica a possibilidade de se estender em
direção, no futuro, a tarefas ainda não emuladas no presente
(MANOVICH, 2013).