Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
2.1 Midiatização
A midiatização, por sua novidade, consiste em um con-
ceito ainda em fase de construção. Pesquisadores como Braga
(2012) têm tentado compreender o fenômeno à luz de uma as-
sociação entre desenvolvimento técnico e invenção social. Por
isso, não bastaria circunscrevê-la ao âmbito de progresso da
tecnologia, pois precisaríamos pensar em como a sociedade por
si mesma integra ou descarta as ferramentas fornecidas pela
indústria. Um posicionamento que tem se demonstrado promis-
sor para entendermos a transição em curso da era dos meios
de comunicação de massa para a da midiatização é a análise
de circuitos comunicacionais. Braga (2012) acentua uma com-
preensão distinta da circulação: antes as interpretações a traba-
lhavam como processo intermediário entre produção e recep-
ção, mas recentemente ela veio a se estabelecer também como
o momento seguinte à recepção, num modelo de “fluxo contí-
nuo”. Os discursos mobilizados pelos agentes midiáticos ope-
rariam em circuitos comunicacionais formados sobre vetores
de campos sociais preexistentes. É plausível pensarmos que os
sentidos proferidos participam, portanto, de múltiplos circuitos
simultaneamente. Poderíamos situar algumas apropriações de
Harry Potter no Facebook entre os campos da Comunicação e da
Literatura, por exemplo.
O fluxo contínuo pode ser observado através da lógica
de funcionamento das próprias redes de socialização, que ex-
pressa, numa mistura de esfera pública com privada (PROULX,
2013b), assuntos da ordem do dia em textos e fotos de usuá-
rios comuns. Ademais, esse cenário de transição traz problemas
epistemológicos para a pesquisa em nossa área. Se as fronteiras
entre produção e recepção ficam atenuadas com a entrada de
atores individuais nos circuitos, como pensar as questões clássi-
cas de meios e mediações na atualidade?
A tecnologia é elemento participante na midiatização.
A digitalização dos dispositivos intensificada a partir dos anos
1990 ajudou a disseminar terminais para que indivíduos pudes-
sem se expressar. Mas não é somente a partir do concreto, da fer-
ramenta, que os dispositivos são empregados. Além da visão de-