Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
O que dizer, então, dos
mashups
frente a isso? É impos-
sível que jovens nascidos na década de 90 pudessem ter refe-
rências concretas de fatos tão antigos, mas são estes jovens que
acionam processos de apropriação, fazendo uso dos objetos téc-
nicos, mas inscrevendo-os em suas práticas sociais, para identi-
ficar imagens e produzir novos sentidos. Assim, como dito an-
teriormente, a circulação dá conta do trabalho de produção do
sentido ao longo do tempo. Nesta perspectiva, é possível inferir
que o
mashup
é produção de interações em espaços e tempos
diferidos, pois permite que novas relações sociais, comunicacio-
nais sejam criadas a partir dos dispositivos midiáticos recupe-
rando imagens de arquivo de fatos históricos e articulando-os
com narrativas presentes. Tais mobilizações suspendem um pe-
ríodo de tempo, mas produzem interações nesse período, não
gerando vazios, ao contrário, produzindo interações dialógicas
que tornam acessíveis fatos que ainda colonizam o imaginário,
mas que perderam o status de imediatamente acessíveis e expe-
rienciáveis para as gerações mais novas, como é o caso da dita-
dura, dos porões do DOI-CODI, da Guerra do Golfo e do Vietnã,
entre outros fatos.
Emoposição a esta visão, tem-se o fato de que o
mashup
é uma criação derivada, uma apropriação, e toda apropriação já
carrega consigo um desvio essencial, o fato de ser uma interpre-
tação segunda. Isto implica que o descolar dos contextos revela
recriação a partir de algo que já pode ter sido cocriado, sem a
atribuição de créditos e essencialmente com a perda da referên-
cia primeira, em especial o discurso jornalístico, mas preser-
vando o tom legitimador, de “verdade” desse discurso. Mesmo
imagens que são de domínio público podem não ser de conhe-
cimento público no que tange aos fatos, ao contexto, aos valores
histórico-culturais acoplados, sendo que sem contextos há uma
hibridização do vazio. Compra-se a ideia, o que não significa
que se leve a informação. Retoma-se o pensamento de Flusser
(2007) no sentido de uma nulo-dimensão. No entanto, esta nu-
lo-dimensão não é uma dimensão oca, ao menos não na visão de
Proulx. Ao contrário, ela é repleta de construções novas feitas
a partir do já existente, propiciado pela relação com a técnica.
Neste sentido, é importante retomar a afirmação de Proulx de
que a apropriação só acontece se for uma integração criativa de