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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

re ao uso das redes sociais e plataformas de compartilhamento

para a disseminação de ideias do protesto com o intuito de mo-

bilizar mais cidadãos a lutar pelas causas propostas (melhorias

na educação, saúde e transporte públicos, combate à corrupção,

etc.) e como espaço de organização das passeatas nas ruas. A

segunda forma se expressou em ações como as do Mídia Ninja

e outros atores sociais que, através dos usos das TIC, propuse-

ram uma forma participativa de produção da informação sobre

os acontecimentos. E a terceira forma, mais radical, residiria nos

ciberataques do grupo Anonymous às instituições políticas e or-

ganizacionais que representam as contradições do capitalismo

contemporâneo.

É muito importante notar que as três formas de agir

político nas mídias digitais, mesmo que independentes entre si,

complementaram e impulsionaram o movimento político que

ganhou as ruas. E foi exatamente esta forma de organização da

resistência em rede, mencionada pelos analistas mas não com-

preendida em sua complexidade, que caracterizou o ineditismo

e abrangência das manifestações por todo o país. Não se tratou

de um movimento de massa, mas de um movimento em rede. A

massa possui um líder, uma única ideologia que a faz andar em

umúnico sentido. Neste caso, uma massa só pode se opor a outra

massa contrária. O movimento em rede é rizomático (DELEUZE;

GUATTARI, 1997) e se estende em múltiplas direções, admitin-

do entradas e saídas em todas as ramificações, como também o

contraditório dentro do próprio organismo. Por outras palavras,

quando os governantes brasileiros buscavam conferências com

os líderes do movimento, não compreendiam a dinâmica desta

nova forma de fazer política que, justamente por ser inédita, não

encontrava representação nos modelos partidários e sindicais

do século XX, estando a solução ainda por ser inventada.

As discussões sobre a eficiência pragmática dos protes-

tos nas transformações sociais no Brasil continuaram em debate

nas redes digitais e fora delas. Há os que defendem que “O gigan-

te acordou, mas voltou a dormir”, pois as manifestações passa-

ram a ocorrer com menos frequência nos meses subsequentes

e depois com número bem menor de participantes até se exau-

rirem. Ocorrem esporadicamente, mas não se comparam às de

junho de 2013 e passaram a ser partidarizadas novamente. Há