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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

A sucessão de uma intricada rede de acontecimentos

políticos, judiciários e midiáticos culminou, em 12 de maio de

2015, na aprovação, no Senado Federal, da abertura do proces-

so de impeachment contra a presidente Rousseff, por alegado

crime de responsabilidade fiscal. Uma cascata de eventos impre-

visíveis fez com que o jornalista alemão Thomas Fischermann

escrevesse uma matéria no

Die Zeit

, no dia 12 de março de 2016,

em que questiona, em tom de ironia, por que as pessoas no

Brasil ainda se interessariam pela série

House of Cards

, sendo o

noticiário político brasileiro muito mais interessante.

O “desembarque” do PMDB do governo, principal alia-

do do PT nas eleições e partido do atual presidente interino

Michel Temer, a denúncia de crime de responsabilidade contra a

presidente aceita pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo

Cunha (réu no Superior Tribunal Federal, acusado de corrup-

ção), as diversas prisões dos gestores das maiores empreiteiras

do Brasil e de políticos ligados aos governos afastado e interino,

os frequentes vazamentos de áudios das chamadas “delações

premiadas” à imprensa, que revelam detalhes de um sistema

endêmico de corrupção que estaria ligado aos financiamentos

de campanha, são alguns dos temas que se destacam nos meios

jornalísticos diariamente e ganham as páginas dos mais conhe-

cidos jornais mundiais.

O fluxo de informação nas redes sociais ganhou um

tom de disputa entre duas posturas políticas bem demarcadas, e

as interações entre vertentes de direita e esquerda, via de regra,

beiram, quando não adentram, a intolerância. Há duas visões de

mundo distintas: os que defendem um projeto de esquerda ba-

seado em alegados avanços sociais, que denunciam o impeach-

ment como golpe, e os liberais, que alegam que houve um enges-

samento e aparelhamento do Estado em prol de uma ideologia

ultrapassada e apoiam o afastamento da presidente.

O coletivo Mídia Ninja continuou ativo, mas ficou bem

menos proeminente no cenário comunicacional após o “esfria-

mento” dos protestos, que têm sido novamente mobilizados, por

partidos políticos e grupos de interesse. O Anonymous Brasil

ainda opera, assim como suas “sucursais” no resto do mundo,

mas com pouco destaque na imprensa local, portanto sem pro-

tagonismo nos debates. Muitos destes temas têmmotivado bate-