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XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE

DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS

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EIXO 7 – PAULO FREIRE E A EDUCAÇÃO POPULAR (AMBIENTES DIVERSOS)

palavra salvadora

10

, a qual remete esse ser a uma condição

de passividade.

A prática democrática e crítica, pelo contrário, man-

tém correlacionadas a leitura do mundo e a leitura da pa-

lavra, como leitura da realidade, na qual esse sujeito atuará

sobre essa, de forma a propor transformações.

Essa leitura da realidade não poderá ser uma repeti-

ção mecanicamente memorizada da maneira como o edu-

cador exercita essa leitura, pois, nesse caso, cair-se-ia no

autoritarismo.

Nesse caminho, Freire compreende a ideologia do

astuto, a qual, do ponto de vista objetivo, é semelhante ao

contexto ingênuo, no que trate obstaculizar a emancipação

dos seres humanos. Porém distinguem-se subjetivamente,

quando o ingênuo prega a neutralidade, o astuto, marcado

pela ideologia dominante, assume essa ideologia como pró-

pria e faz da ingenuidade sua tática.

A linha de raciocínio que se contempla é que, na visão

ingênua, o educando, mesmo por um quefazer mecânico, dis-

sociado da realidade, poderá, aprendendo sobre sua prática,

perceber a inoperância de sua ação e, dessa maneira, renun-

ciando à ingenuidade, poderá assumir uma posição crítica.

Por outro lado, na concepção do astuto, o educando,

inserido em um processo de um quefazer mecânico, cen-

trado na doação da palavra, possui a sua cultura invadida e

passa a aprender a palavra, no processo educativo, a partir

da realidade definida pela elite, desconhecendo o seu pró-

prio contexto histórico.

De maneira contrária à do astuto, a percepção crítica

exercita as formas de ação e reflexão inseridas na práxis, as

quais permitirão a mudança da consciência, tal que a uni-

dade entre prática e teoria vão se constituindo em um, per-

manentemente, refazer no qual é possível o movimento da

prática para a teoria e, desta, a uma nova prática.

10 A reflexão de Freire (1983) remete àqueles que consideram o analfabeto

como um “homem perdido”, fora da realidade. Nessa perspectiva é preciso

salvar esse ser humano e sua salvação está no ato de receber a palavra de

maneira passiva.